A lógica de posse ainda é extremamente forte na sociedade que vivemos. Fomos sempre estimulados a comprar e guardar recursos sob nosso domínio, mesmo sem utilizá-los devidamente. Sob a ótica individual de qualquer negócio, manter uma base de ativos resulta numa estrutura de custos fixos mais elevada. Isso diminui a mobilidade de uma organização para mudar seus rumos, pois ativos fixos nem sempre têm liquidez para serem revertidos em caixa rapidamente. Além disso, todo ativo se deprecia e perde valor ao longo do tempo. Num mundo em transformação, em que o que é relevante hoje pode estar obsoleto amanhã, adquirir e ficar refém de ativos que podem ser acessados de outras maneiras não parece ser, portanto, uma estratégia muito inteligente.
Foi na crise de 2009 que surgiu nos EUA a oportunidade para a economia compartilhada ser potencializada. Por meio de uma gestão informatizada em plataformas online, os donos de apartamentos semi-ocupados passaram alugar quartos para hospedagem de curta duração; motoristas oferecem serviços pontuais de transporte; especialistas e professores conseguem oferecer cursos específicos; entre outros diversos serviços que são disponibilizados e que transformam a natureza do consumo.

Não é mais tão necessário possuir bens de consumo… e sim, ter acesso aos serviços que levam ao mesmo fim. Compartilhar carros, escritórios, equipamentos, equipes de trabalho e capital financeiro são algumas formas de acessar sem ter a posse.

A informação é, por sua natureza, acessada e não possuída. Quem diz que tem/possui uma informação, na verdade tem acesso (exclusivo ou não) de tal informação. Isso porque a informação segue a lógica digital de reprodutibilidade sem perda, ou seja, é possível replicar a informação de forma integral. Se o principal bem da nossa era (a informação) consolida a lógica do acesso e não da posse, é natural que a mesma cultura de consumo seja de alguma forma assimilada em outras esferas econômicas da sociedade. Por mais estranho que possa parecer, o consumo pelo acesso e não só pela posse está, de fato, se estabelecendo em diversos setores econômicos na chamada economia colaborativa ou compartilhada.

Do ponto de vista dos ativos, por que a empresa precisa alocar seus recursos em ativos físicos se ela pode terceirizá-los? Seja seu espaço físico, que pode ser compartilhado e ampliado ou reduzido de acordo com a demanda da empresa em espaços de coworking, seja no aluguel de periféricos e equipamentos ou até mesmo a terceirização da fabricação de seus produtos, as empresas passaram a ter múltiplas alternativas para serem mais “leves” e ajustarem seu tamanho à situação e às demandas globais.

Em relação às equipes vale o mesmo raciocínio. Equipes inchadas tendem a ficar ociosas e ultrapassadas. Por que não contratar sob demanda, por expertise exigida, e por competências demandadas a cada projeto? Terceirização de profissionais com as mais diversas expertises também ajuda a empresa a trazer experiências diversas para a companhia, além de ficar mais flexível para adequar as equipes também sob demanda, ampliando ou reduzindo seu pessoal de acordo com a situação. Os profissionais que nela trabalham por sua vez, tendem a saírem da zona de conforto pois sabem que precisam estar atualizados e produtivos para fazerem parte dela.

Assim, a economia compartilhada de fato traz muitos benefícios financeiros, mas também promove outros valores sociais negligenciados pelo consumismo individualista tradicional. O crescimento da lógica do acesso em lugar da posse talvez não seja aplicável em todos os setores econômicos, mas podemos ver diversas áreas se aproveitando deste potencial de alguma forma. Refletir como isso pode impactar no nosso negócio e quais são as oportunidades que surgem pode ser essencial para a sobrevivência organizacional.

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